Vizelenses dignos na despedida

Apesar de traído no último suspiro (2-2), o FC Vizela despediu-se da I Liga com dignidade e uma grande imagem coletiva. Num Bessa a fervilhar de emoções, assistiu-se a um grande espetáculo de futebol com a equipa vizelense a mostrar uma vez mais que tinha qualidade suficiente para evitar a despromoção, não fosse a força dos detalhes, tal como sublinhou o treinador Rubén de la Barrera no final do encontro.

Caiu o pano sobre a edição 2023/24 da I Liga. Um fim de ciclo de três temporadas consecutivas do FC Vizela na divisão maior do futebol português. O Estádio do Bessa serviu de palco num dia nostálgico. Há 23 anos atrás, o Boavista escrevia uma página ímpar na sua história com a conquista do título nacional. O FC Vizela procurou ali despedir-se da melhor maneira e fê-lo mais uma vez de forma descomplexada, tal como acontecera na ronda anterior diante do Estrela. Os axadrezados, apesar de contarem com uma atmosfera vibrante dos seus quase 20 mil adeptos, jogavam ali a vida e sentiram a responsabilidade do momento.

Com nova aposta numa dianteira sem referência fixa (Essende ficou no banco) e recheada de mobilidade, o futebol associativo dos vizelenses desbaratou por completo a turma da casa, em particular no primeiro tempo. O FC Vizela teve muita bola e, sobretudo, muita clarividência na organização do seu jogo, pelo que, sem surpresa, chegou ao golo à passagem da meia hora. O cruzamento de Matheus Pereira foi bom e Lebedenko foi eficaz ao aparecer no coração da área, materializando a jogada em golo, depois dos avisos dados pelos seus colegas anteriormente. O golo acentuou o nervosismo dos axadrezados e os vizelenses chegaram ao intervalo na frente com toda a justiça e a darem uma imagem muito positiva.

A segunda parte começou com o Boavista a responder em força, acossado também pelas más notícias que chegavam da Amadora e, especialmente, de Faro. Assim, aos 53’, após Bozeník e Sasso terem causado embaraço, Joel Silva, numa violenta recarga a um cabeceamento de Bruno Onyemaechi, empatou a partida (1-1). Os festejos extravasaram as bancadas, mas não duraram muito tempo. O tempo suficiente para o FC Vizela responder com serenidade e critério, bem patentes na forma como chegou novamente à vantagem (61’). Matías Lacava arrancou pelo lado esquerdo e assistiu Matheus Pereira para o golo que gelava o Bessa. O Boavista obrigou então a um maior trabalho defensivo, fruto da sua reação até mais emocional que racional, e o FC Vizela procurava controlar os movimentos do adversário. Na fase do tudo ou nada para os da casa, os azuis tiveram mesmo uma excelente ocasião para sentenciar o desafio, por intermédio de Lebedenko, mas o remate saiu ligeiramente por cima. Os sete minutos de compensação foram eletrizantes e mais pareciam perdurar no tempo. Até que, no último desses sete, Tomás Silva, ao procurar evitar o cabeceamento de Martim Tavares, a bola acaba por desviar no braço deste, situação validada pelo VAR, resultando daí um castigo máximo. Miguel Reisinho cobrou o lance, passavam já onze minutos depois dos noventa, e fez o 2-2 para completo delírio no Bessa. A permanência estava garantida para o Boavista de forma dramática. Do lado do FC Vizela, o detalhe voltou a retirar-lhe a possibilidade de vencer, algo que resume a época e que acontecera em tantas outras ocasiões.

Em suma, o resultado e a sua respetiva evolução foram o espelho fiel da temporada para ambos os emblemas, em especial para o FC Vizela, que esteve em vantagem duas vezes e só não trouxe uma vitória, que lhe assentaria muito bem, por manifesta infelicidade presa num detalhe.

Uma palavra para os adeptos vizelenses que se deslocaram ao Bessa e que nunca deixaram de apoiar em todos os momentos. Certamente que olham para esta despedida como um “ate já”, na esperança que o FC Vizela volte mais forte em 2024/25.

FICHA TÉCNICA

Boavista FC 2-2 FC Vizela

Local: Estádio do Bessa XXI (19.874 espectadores)

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Assistentes: Hugo Ribeiro / Francisco Pereira

4º Árbitro: Flávio Duarte (AF Lisboa)

Vídeo-Árbitro (VAR) / AVAR: Fábio Melo (AF Porto) / Sérgio Jesus

Boavista FC (4x3x3): João Gonçalves; Salvador Agra, Rodrigo Abascal (C), Sasso e Filipe Ferreira; Vukotic (Martim Tavares, 79’), Joel Silva (Chidozie, 68’) e Miguel Reisinho; Bruno Lourenço (Berna, 84’), Bozeník e Bruno Onyemaechi (Masa Watai, 68’).

Suplentes não utilizados: César, Ibrahima, Gonçalo Almeida e Tiago Machado.

Treinador: Jorge Simão

FC Vizela (4x3x3): Buntic; Tomás Silva, Jota, Rodrigo Escoval e Lebedenko; Pedro Ortiz, Diogo Nascimento e Samu (C); Matías Lacava (Busnic, 84’), Domingos Quina (Hugo Oliveira, 64’) e Matheus Pereira (Alex Méndez, 73’).

Suplentes não utilizados: Ruberto, Bursac, Ba-Sy, Rashid, Bruno Costa e Essende.

Treinador: Rubén de la Barrera

Golos: 0-1 Lebedenko (30’), 1-1 Joel Silva (53’), 1-2 Matheus Pereira (61’) e 2-2 Miguel Reisinho (90’+11’, g. p.).

Cartões Amarelos: Jota (16’), Joel Silva (23’), Vukotic (54’) e Chidozie (90’+4’).

“O Boavista tinha objetivos, mas nós viemos fazer o nosso jogo. Fomos muito superiores e foi pena este penálti a acabar.”

Diogo Nascimento (Jogador do FC Vizela)

“Este jogo não difere muito do que fizemos noutros jogos. Foi uma pena sofrer este penálti e não dar por finalizada a época com uma vitória. O futebol disse que o FC Vizela não merecia ficar na primeira, apesar de os dados objetivos o contrariarem.”

Rubén de la Barrera (Treinador do FC Vizela)
O golo de Lebedenko (0-1).
O golo de Matheus Pereira (1-2).