Esperança demasiado efémera

O FC Vizela jogava em Braga nova cartada decisiva para poder sair do último lugar e dar um novo ânimo à luta pela manutenção na I Liga. A esperança residiu na boa primeira parte e no golo de Essende, a abrir a segunda. Contudo, em três minutos, essa esperança, à semelhança de outras ocasiões, começou a desvanecer-se com Zalazar a empatar de seguida e a virar mesmo o jogo na reta final (2-1), depois de saltar do banco ao intervalo.

A primeira parte não teve golos, porém, o resultado ilustra bem a toada de equilíbrio registada nesse período, o que premeia de certa forma aquela que foi a boa organização demonstrada pela equipa vizelense. Os dois conjuntos vinham de semanas complicadas, ainda que por motivos distintos. Enquanto em Braga ainda se recupera do choque que afetou Rui Duarte, pela partida repentina de um dos seus jovens filhos – a plateia deixou o técnico emocionado aos 23 minutos -, do lado do FC Vizela, a ressaca de uma derrota caseira com o GD Chaves, que deixara tudo muito mais difícil na luta pela manutenção.

Quem assistisse aos primeiros 45 minutos e desconhecesse a classificação, seguramente não imaginaria uma distância tão grande entre os dois emblemas na tabela. Nascimento, Lokilo e Quina recuperaram o lugar no onze, assente num desenho tático diferente, e contribuíram positivamente para esse equilíbrio. As primeiras iniciativas pertenceram ao SC Braga, mas só a partir dos 20 minutos, momento em que Bruma protagonizou o primeiro remate. Dobrada a meia hora, foi Banza, de cabeça, a criar perigo, antes da resposta vizelense. Primeiro foi Jota a cabecear ligeiramente ao lado, após bom cruzamento de Tomás Silva, depois foi Essende a causar embaraço à defensiva arsenalista. Diogo Nascimento viu bem a entrada de Tomás Silva e o atacante respondeu ao seu passe com um remate à meia volta, desviado pela linha de fundo por um contrário. Estávamos perto do intervalo, que chegaria então com o marcador a zeros.

No reatamento, apesar de Banza ameaçar o golo logo no primeiro minuto, foi o FC Vizela a viver um regresso triunfal no jogo. Estavam cumpridos 50 minutos quando Essende finalizou à ponta de lança um passe açucarado de Domingos Quina, sem esquecer a excelente recuperação de bola de Samu em zona nuclear. A vantagem, consubstanciada pela boa imagem deixada na etapa inicial, alimentava a esperança. No entanto, num episódio já revisto várias vezes ao longo da temporada, essa esperança tornou-se efémera pelos três minutos que separaram esse festejo do 1-1 materializado pelo uruguaio Zalazar, que saltara do banco ao intervalo para ficar ligado ao triunfo do SC Braga. Um golo consentido pelo erro cometido numa saída de bola muito arriscada, com Banza a resgatar o esférico, antes do colega atirar a contar, momento esse que se traduziu num aditivo extra para que os da casa crescessem no jogo até ao 2-1. A instabilidade defensiva resultante do golo sofrido possibilitou ao SC Braga ter outras situações, em especial pela dupla Banza e Bruma, com o segundo a chegar mesmo a marcar aos 65 minutos, porém, o tento seria bem anulado por infração do primeiro sobre Tomás Silva.

O FC Vizela, gradualmente, voltaria a recuperar no jogo, a estender-se mais no plano ofensivo, valendo Cristian Borja num corte providencial a evitar que uma bola cruzada por Soro pudesse ser finalizada ao segundo poste por Tomás Silva. Por altura dos 75 minutos, Samu já havia ensaiado a meia distância, Essende chegaria tarde a uma bola enviada pelo capitão e Lokilo atirara por cima na cobrança de um livre direto. Vivia-se novo bom momento do FC Vizela no jogo, muito por responsabilidade de Samu e Diogo Nascimento, que vincularam os colegas com o seu futebol. Só que, tal como em tantas outras vezes, numa espécie de flashback da época, na fase em que os vizelenses procuravam chegar novamente à vantagem, acabaram por sofrer o golpe de misericórdia com Zalazar a fazer o 2-1 num penálti em movimento, depois de insistência de João Moutinho. Foi mais uma penalização, a cinco minutos dos noventa, em cima de um estado anímico já de si muito fragilizado num FC Vizela que não merecia sair novamente derrotado de Braga. Faltam quatro jogos, a matemática dos pontos ainda sobrevive e enquanto ela persistir a equipa continuará a competir dignamente como fez na capital minhota.

FICHA TÉCNICA

SC Braga 2-1 FC Vizela

Local: Estádio Municipal de Braga (12.932 espectadores)

Árbitro: André Narciso (AF Setúbal)

Assistentes: Vasco Marques / Luís Viegas

4º Árbitro: Halim Shirzad (AF Santarém)

Vídeo-Árbitro (VAR) / AVAR: Hélder Carvalho (AF Santarém) / Francisco Pereira

SC Braga (4x2x3x1): Matheus; Victor Gomez, Paulo Oliveira, Niakaté e Cristian Borja; João Moutinho (Pizzi, 88’) e Vítor Carvalho (Zalazar, 45’); Álvaro Djaló (Rony Lopes, 71’), Ricardo Horta (C) e Bruma (Abel Ruiz, 71’); Banza (Cher Ndour, 88’).

Suplentes não utilizados: Lukas Hornicek, José Fonte, Joe Mendes e Adrián Marín.

Treinador: Rui Duarte

FC Vizela (4x2x3x1): Ruberto; Tomás Silva, Jota, Anderson e Lebedenko; Diogo Nascimento e Samu (C); Lokilo, Domingos Quina (Hugo Oliveira, 85’) e Alberto Soro (Matheus Pereira, 73’); Essende.

Suplentes não utilizados: Buntic, Alex Méndez, Ba-Sy, Dylan, Rashid, Rodrigo Escoval e Pedro Ortiz.

Treinador: Rubén de la Barrera

Golos: 0-1 Essende (50’), 1-1 Zalazar (53’) e 2-1 Zalazar (85’).

Cartões Amarelos: Domingos Quina (17’), Samu (40’), Ruberto (63’) e Abel Ruiz (87’).

“Fizemos uma boa primeira parte. Sofremos o golo e o jogo acabou por mudar. Há que salientar a entrega de toda a equipa. Vamos lutar até ao fim enquanto for matematicamente possível.”

Diogo Nascimento (Jogador do FC Vizela)

“Foi um jogo competitivo da nossa parte, confortável nuns momentos, superior noutros. Fomos castigados de novo. Os pontos não chegam, mas temos de continuar a competir por prestígio.”

Rubén de la Barrera (Treinador do FC Vizela)
Perspetiva do golo do FC Vizela, apontado por Essende (50′)