“Temos de dar a vida”

Rubén de la Barrera lançou a deslocação a Braga (sábado, 20h15) e explicou que há muito em jogo. Desde logo a permanência na I Liga, mas também o orgulho e o prestígio de todos.

O treinador do FC Vizela reconhece o momento complicado, mas não atira o chão. Os resultados nem sempre dão razão ao processo, mas a confiança no trabalho diário faz o FC Vizela acreditar que pode ir vencer à capital do Minho. Falta de motivação não pode haver, porque a honra de cada um é, em qualquer circunstância, o mais importante que se pode levar para dentro de um relvado. A conferência de imprensa de Rubén de la Barrera foi mais longa do que o habitual e o treinador não deixou nada por dizer.

SITUAÇÃO COMPLICADA E INFORTÚNIOS: “Normalmente, as coisas que estão a acontecer obedecem a dinâmicas negativas. Quando tudo corre bem, as lesões não costumam acontecer nestes momentos, por exemplo. Podemos analisar as coisas a partir do que acontece ou dos resultados. E o resultado não mostra muito das coisas que aconteceram no relvado. Há muitos aspetos a condicionar o resultado. E por aí deixamos de falar do que fizemos bem, porque o que interessa é ganhar, os golos que marcas e os que sofres. Amanhã temos um jogo contra uma grande equipa, com qualidade coletiva e muita individual. Estas equipas pretendem ser dominadoras e os erros próprios podem ser ainda mais decisivos. Estamos numa situação limite, com dificuldades pelos jogadores que têm sido importantes e com que não poemos contar. Mas isso também mostrará a responsabilidade dos que estão e dos que têm de ir ao relvado para defender o orgulho de cada um. Isso sim, é verdadeiramente importante.”

RESPONSABILIDADE ACRESCIDA: “Evidentemente. Quando as coisas correm bem é culpa dos jogadores, quando não correm bem é culpa dos treinador. É assim que esta convencionado e eu assumo sem problemas.”

CONTESTAÇÃO E FALTA DE APOIO: “São muitas coisas a que temos de olhar. Durante a semana, e de forma geral, com exceção dos jogos com os grandes, em que estamos conscientes do que pode acontecer, pretendemos construir cenários de estabilidade para que as coisas corram da melhor maneira possivel. Antes de jogar, a sensação que tenho é comum, é que vamos ganhar. Porquê? Pela preparação, pelo que a equipa faz todos os dias. Depois, por uma coia ou outra, o resultado não me dá razão. E agora? Agora é como na vida, agora é levantarmo-nos. Simples. Quando corre tudo bem somos todos altos, bonitos e craques mundiais. Quando é contrário, somos todos baixinhos, feios e nãos servimos para isto. A minha sensação não cabem dois dos três resultados possíveis nem a descida de divisão. Sei o que fazemos aqui e o valor do processo do dia a dia. Se falarmos de resultados, não podemos sentir orgulho. Ma podemos sentir orgulho do processo. O futebol é curioso: às vezes processos muito maus correm bem e processos muito bons correm mal. Porquê? Porque o futebol é multifatorial, no futebol isto acontece. No futebol há muitas variáveis. Nesta época, neste contexto, está a acontecer isto e isso chateia-me muito. Fico dorido com o que acontece, porque sei o que trabalhamos e o que nos dedicamos. As ouras coisas não posso controlar. Para falar de algo é preciso conhecer bem, para conhecer bem é preciso estar no dia a dia. Como treinador gostaria de contar com o máximo apoio de toda a gente, porque isso influi com os jogadores. Mas repito, não depende de mim e sobre isso não falo porque não terei a maior propriedade para isso.”

COMO SE MOTIVAM OS JOGADORES: “A partir do orgulho, a partir do prestígio de cada um de nós. Quando alguém entra num relvado para jogar, representa-se a si mesmo. Ou seja, cada um decide a opinião que outro pode ter do trabalho década um. Então, maior motivação que essa é difícil, sobretudo neste tipo de momentos. Eu entendo que se digo aos jogadores desde a perspetiva de que ou ganhamos em Braga ou estamos na II Liga, ok. Pode ser real, sim, mas entendo que há algo que é muito mais importante que isso, que é precisamente manter o rendimento ao longo do tempo. E custa-me falar de algo mais importante que o prestígio e a imagem pessoal de cada um de nós, a honra. Isso está em jogo. Evidentemente odeio perder, é o que mais detesto na minha vida. Aqui, infelizmente, estou a conviver demasiado tempo com a derrota, mas para mim a chave é que cada um tem de comportar-se de maneira similar quando ganha e quando perde, não mudar. A realidade tem um nome. A nossa realidade, esse nome, no nosso caso é negativa, mas temos de conviver com isso. Neste tipo de momentos, temos de ter humildade, mas olhando à frente. Não sei o que vai acontecer amanhã, não sei o que vai acontecer no domingo, ou segunda, o que sei é que amanhã temos um jogo de futebol e todos nós temos de dar a vida. É simplesmente isso.”

ÂNIMO DO PETROV: “É um diagnóstico complicado o dele. Primeiro é um jogador com que não vamos poder contar até o final da época e, segundo, era um jogador que estava a ajudar o resto da equipa. Mas o mais importante é a sua saúde. A sua lesão vai obrigá-lo a estar de fora bastante tempo.”

FORMA DE DEFRONTAR O SC BRAGA: “Em primeiro lugar a própria situação a que temos de dar a volta, minimizar a diferença anímica entre o estado de uma equipa e o estado da outra, depois o estado em que chegamos lá, enquanto número de jogadores disponíveis, mas nesse aspeto o foco é o mesmo, o jogo foi preparado com o objetivo de competir e ganhar. Esperamos chegar às circunstâncias que permitam isso e o resultado cair a nosso favor, sabendo que, a nível coletivo, temos argumentos e a nível individual eles são fortes. Essa é a realidade.

CONFIANÇA ATUAL: “Costumamos falar da confiança a partir do que chega de fora, mas a confiança constrói-se com base no que se faz, por isso o meu nível de confiança está intacto porque eu sei do que faço. O meu estado de confiança não depende do que me dizem, porque sou consciente do que faço, dou uma volta, duas, três, quatro, sete até que as coisas corram bem. Mas, claro, somos humanos e todos gostamos que as coisas corram bem, mas a vida não é isso. De vez em quando vais conviver com momentos mais difíceis e isso são desafios. No futebol, o resultados podem ir condicionando a confiança, mas o meu papel é precisamente não parar. Como falamos no outro dia, após do jogo do Chaves, se eu deixo de preparar os treinos, a estratégia, estou a atentar contra o meu profissionalismo e estou a faltar ao respeito ao clube e aos jogadores. Se um jogador fica parado ou bloqueado fruto desta situação, está a faltar ao respeito a si mesmo, aos companheiros e às pessoas com quem convive. Isto é assim. É como a motivação, é igual. A minha confiança não depende do presidente ou do diretor desportivo me dizerem um dia “Rubén pareces um grande treinador”. A minha confiança depende do  trabalho que faço todos os dias, isso é o que me alimenta, porque sabemos que quando tudo corre bem, todo o mundo é teu amigo mas quando tudo corre mal, todo mundo te critica. Algum problema com isso? Nenhum, porque levo imenso tempo nisto, sei como isto funciona. Sem problemas. Se eu sentisse o contrário ou se me sentisse sozinho trocaria de profissão.